04/12/09

governo sentimental

não sei se o leitor se recorda de em abril 2008 o contacto ter entrevistado um poeta português que veio ao grão-ducado para participar na primavera dos poetas, de nome valter hugo mãe, autor de romances como "o remorso de baltazar serapião" e "o apocalipse dos trabalhadores" (prémio saramago 2007) e cuja escrita se caracteríza, entre outras coisas, por ser sempre grafada em minúsculas. hoje, volto a falar-vos do valter, não da sua poesia, mas da sua... música.

em 2007, valter foi convidado pela artista plástica isabel lhano para uma representação em braga, onde o autor interpretou nina simone e madredeus. no evento estava o teclista e guitarrista dos mão morta, antónio rafael, que topou logo o intérprete potencial e o convidou a cantar um tema seu, "nome de ninguém". valter, que sempre gostou de cantar - recorde-se como no luxemburgo, depois de dizer poemas seus, valter brindou o público com uma canção à capela, o que surpreendeu agradavelmente a assistência - aceitou o desafio. o poeta juntou-se ao guitarrista (que neste projecto é o teclista), chamaram o baterista dos mão morta, miguel pedro (fundador dos mão morta e dos mundo cão) e formaram os "cabesssa lacrau" (dixit), hoje rebaptizados "governo" (desistiram do pirmeiro nome por valter o considerar muito "pretensioso"). entretanto, juntou-se-lhes ainda henrique fernandes no contrabaixo.

valter passou a ser não só o letrista de todas as canções como o vocalista do grupo. recentemente, em entrevista, o "governo" confiavam que o que pretendiam era criar um projecto português, em português e com uma certa melancolia portuguesa. o estilo de música que fazem é como os próprios lhe chamam: um "pop entristecido", numa mistura de blues, jazz e até de fado. mas uma melancolia que se deve também à voz "muito especial" do valter. um bom exemplo disso é "meio bicho e fogo", canção lenta, algo "arockalhada", com uma guitarra eléctrica muito melancólica. durante as estrofes, valter usa uma voz grave e doce e, ao chegar ao refrão, liberta-se completamente e faz sair uma voz com muito sentimento là do fundo do peito.

o primeiro álbum está previsto para finais de 2010, mas a banda decidiu pôr-nos água na boca, ao lançar recentemente o disco "propaganda sentimental" com cinco faixas e que nos permite ter uma ideia do projecto. os mais impacientes podem visitar o site da banda em www.myspace.com/governo.

(este artigo foi escrito em minúsculas em homenagem a valter hugo mãe).

Jessica Lobo
in Contacto, 02.12.2009

governo - meio bicho e fogo

15/11/09

Buraka Som Sistema distinguidos com prémio europeu por sucesso além fronteiras

A banda portuguesa Buraka Som Sistema foi distinguida com o galardão "European Border Breakers Awards" (EBBA) de 2010, destinado a premiar músicos europeus em início de carreira com sucesso além fronteiras, anunciou esta semana a Comissão Europeia.

Os Buraka Som Sistema, que no ano passado lançaram o primeiro álbum de originais, "Black Diamond", foram uma das 10 bandas ou artistas premiados na sétima edição dos EBBA, a par de artistas como o belga Milow (pelo álbum "Milow") e o francês Sliimy (autor de "Paint Your Face").

Os outros premiados deste ano

Completam o grupo de premiados deste ano o britânico Charlie Winston (com "Hobo"), o alemão Peter Fox ("Stadtaffe"), os austríacos Soap & Skin ("Lovetune for Vacuum"), a estoniana Kerli ("Love is Dead"), a sueca Jenny Wilson ("Hardships"), a holandesa Esmée Denters ("Outta Here") e a italiana Giusy Ferreri ("Non Ti Scordar Mai Di Me").

A cerimónia de entrega dos prémios realizar-se-á em Groningen, Holanda, a 14 de Janeiro de 2010, sendo o espectáculo gravado pela estação televisiva holandesa NOS e transmitido dois dias depois em toda a Europa através da rede de estações televisivas europeias da UER.

Uma novidade nesta sétima edição será a introdução da escolha pública: um dos vencedores de 2010 será escolhido pela audiência europeia como a obra musical sem fronteiras mais popular na Europa, tendo para tal lugar uma votação "em linha", no sítio de Internet www.europeanborderbreakersawards.eu, a partir de meados do corrente mês de Novembro até ao final do ano

Os "European Border Breaker Awards" são atribuídos pela Comissão Europeia, em cooperação com a "European Broadcasting Union", a artistas ou a grupos debutantes pelo seu êxito em atravessarem as fronteiras nacionais e atingirem audiências fora do seu próprio país.

Os prémios, explica a Comissão Europeia, destinam-se a estimular a mobilidade dos artistas e a circulação das suas obras na Europa e fora dela, bem como a aumentar a sensibilização e a apreciação entre as audiências musicais para além das suas fronteiras nacionais.

Entre vencedores de edições anteriores dos prémios EBBA contam-se artistas actualmente de renome como Damien Rice, Carla Bruni, Gabriel Rios, Adele, e as bandas The Ting Tings e Tokio Hotel.

Os critérios para a atribuição dos prémios EBBA incluem as vendas do primeiro álbum de um artista ou de um grupo nos estados-membros da UE fora do país de produção durante o ano anterior, informações sobre a difusão radiofónica - todas as estações de rádio públicas dos países da UE comunicam a lista das novas obras musicais mais escutadas -, e a capacidade de execução ao vivo do artista, a sua capacidade de realizar tournées e o êxito alcançado em festivais europeus realizados fora do seu paí.

14/11/09

UM SUCESSO FORA DO COMUM

Ana Luísa Neasham Gomes Ferreira, de seu nome artístico Ana Free, nascida a 29 de Junho de 1987 em Lisboa, é não só uma talentosa artista luso-inglesa como adquiriu já grande sucesso de uma maneira completamente fora do vulgar, duas razões pelas quais não podia deixar de falar dela aqui, no "Expresso Musical".

A carreira de Ana Free não começou da mesma forma que a maioria dos outros artistas que conhecemos, e a intérprete é a prova real de que a internet pode, por vezes, realizar sonhos.

A cantora portuguesa, que vive hoje no Reino Unido, sempre sonhou fazer música. Aos oito anos começou a tocar guitarra e aos 10 anos já compunha canções. Gravou alguns vídeos caseiros em que interpretava as suas músicas, essencialmente baladas pop-rock, quase sempre cantadas em inglês, e decidiu divulgá-las no conhecido site de partilha de vídeos, YouTube.

O mais incrível é que a ideia funcionou. Ana criou um canal no YouTube e os seus vídeos passaram a ter milhares de visitantes de todo o planeta. A sua canção mais conhecida, "In my place", tinha atingido um milhão de visitas no Verão de 2009. Actualmente, a artista tem mais de 60 vídeos publicados no YoutTube (em www.youtube.com/user/anafree#p/u ).


Este sucesso valeu-lhe chamar a atenção da televisão portuguesa. A sua primeira actuação televisiva deu-se no Verão de 2007, num programa da TVI, onde interpretou "Crazy", também da sua autoria.


Ainda em 2007, a cantora foi convidada para integrar a compilação “Novos Talentos Fnac”.


Editado em single, "In my place" foi n°1 das tabelas de vendas em Portugal em 2008 e chegou a integrar a banda sonora da telenovela da SIC, "Podia acabar o mundo". Em Junho de 2009, a intérprete compôs "Playground and Kisses" (descarregável gratuitamente em www.myspace.com/anafreemusic ) para uma campanha de promoção de vinho português nos Estados Unidos.

Ana Free anda actualmente em digressão por Portugal e Inglaterra e encontra-se em plena gravação do seu primeiro álbum, em Londres, que deverá sair em breve.

Jessica Lobo
in Contacto, 04.11.2009


Ana Free - In my place

06/10/09

RITA E A MAGIA DOS SAPATOS VERMELHOS

"Dream on girl”, “Hey Tom” e “The Beginning Song” são três grandes sucessos de Rita Pereira, mais conhecida pelo nome artístico de “Rita Redshoes” (Rita dos sapatos vermelhos).
A artista, originária de Loures (Lisboa), começou por ser, em 1996, baterista num grupo de teatro. Depois foi vocalista dos “Atomic Bees” (grupo de rock originário de Lisboa) e em 2003 passou a teclista na banda de suporte de David Fonseca. Em 2007, Rita decide lançar enfim o seu primeiro álbum. “Golden Era” inclui 12 canções, todas em inglês, compostas pela artista, como, por exemplo, “Dream on girl”, primeiro single, que se tornou um verdadeiro motor de arranque para a subida aos tops. “Choose love” é o mais recente single extraído do álbum e que se pode ouvir nas rádios portuguesas neste momento.


Rita fala de amor, de desamores e de relações nas suas canções, que interpreta de maneira bastante romântica e intimista, ao som de um estilo pop-rock alternativo. É isso que também se vê nos seus clipes, aos quais vale a pena dar uma espreitadela.

Além de saber cantar e tocar bateria, guitarra e baixo, Rita é uma artista completa, dominando ainda tudo o que é instrumentos de teclas. Rita teve até o privilégio de ser convidada este ano para o festival “Soud by Soudwest”, que decorre em Austin, no Texas, acompanhada de outros artistas portugueses, como David Fonseca, entre outros. Quanto ao seu sensual nome de cena, a intérprete confiou já em várias entrevistas que escolheu o nome de Redshoes porque era uma compradora compulsiva de sapatos vermelhos, que acabava por nunca calçar. Conta que pensou então que não devia ser coincidência ter tantos sapatos vermelhos.


Além disso, calçar sapatos vermelhos, considera Rita, é para a maior parte das pessoas um desafio, assim como a aventura artística em que se estava a lançar. E foi assim que decidiu que nenhum nome lhe assentaria tão bem como "Rita dos sapatos vermelhos".

Jessica Lobo
in Contacto, 07.10.2009


Choose Love


Hey Tom


Beginning song


Dream on girl

04/09/09

Ó QUE BANDA !

Imagine uma tasca. Uma tasca portuguesa. Portuguesa com certeza. De lá de dentro vem o som de um fadinho, como é de esperar de uma taberna antiga onde se diz que o fado nasceu. Mas, de repente, o fado encadeia-se em musette e reconhecemos… "Killing me softly with his song", clássico blues-soul dos anos 70. Que coisa bizarra, que som tão estranho!!!

Você resolve entrar e descobre um ambiente de bairro popular em festa, quatro marialvas acompanham uma alfacinha bairrista. Eles são o Pablo (contra-bacia), o Zeto Feijão (guitarra/voz), o João Lima (guitarra portuguesa)e o Donatelo (acordeão), e com a vocalista Miranda formam os "OqueStrada".
Os "OqueStrada" são um verdadeiro ovni musical ou melhor um omni – objecto musical não identificado –, tão difícil é perceber em que género de música viajam. Esta vai do fado "pugilista" (como eles próprios dizem) à musette, passando pelo ska, a pop, a bossa nova e o funaná.

O nome da banda foram buscá-lo à estrada (pode ler-se como a fusão de "ó que estrada" com "orquestra de estrada") e às digressões que fazem desde 2002. A sua música quer-se como eles: genuína, verdadeira, as suas canções vêm da rua, da viela, falam do dia-a-dia de um país real.

Os "OqueStrada" pegam em instrumentos do fado do século XIX – a concertina, o violino, a viola, a guitarra –, e juntam-lhes, sem complexos, os urbanos trombone, trompete, baixo e cantam aquilo para o qual o fado foi criado originalmente: cantar o quotidiano e espantar os seus males, como dizia o povo. Mas a música dos "OqueStrada" é mesclada, mais nervosa, irrequieta e galhofeira do que o fado, mesmo quando é corrido. São canções do século XXI, falam do tempo de agora, do Portugal emigrante, do Portugal imigrante, do Portugal dos subúrbios, do Portugal mestiço, do Portugal cigano.

Assim, o seu álbum "Tasca Beat - O sonho português" (Abril/2009) inclui uma desgarrada luso-francesa, uma musette em inglês, uma bossa nova zíngara e até músicas cantadas em crioulo. O primeiro single extraído do álbum é o seu melhor cartão de visita porque resume tudo o que a banda é: "Oxalá te veja" é um alegre ska com uma ponta de swing com uma atitude fadisteira a condizer. E o resto do álbum, são só mais pérolas assim.


Jessica Lobo
in jornal CONTACTO, de 09.09.2009

06/07/09

MORRE O REI, NASCE O MITO

Como não falar de Michael Jackson (MJ) nesta rubrica musical apenas alguns dias após a sua morte, quando a passagem desta super-estrela pela constelação da cultura pop no último meio-século tantos artistas influenciou, deixando uma marca indelével na história da música, só comparável a vultos como Elvis Presley e The Beatles.

Tentarei não repetir o que todas as emissões especiais e reportagens já disseram ou escreveram nos últimos dias, mas uma coisa é certa: quer se gostasse ou não da pessoa ou da sua música, MJ não deixava ninguém indiferente. Pela forma como cantava, dançava e vivia a sua vida. Deixo as polémicas que o rodearam de parte, desde a sua despigmentação às acusações de pedofilia, temas exaustivamente explorados pela imprensa sensacionalista, até porque havia dois MJ. A sua timidez, delicadeza e amabilidade na vida privada, o que testemunham todos os que o conheceram, davam lugar a um animal de palco indomável nos espectáculos, que eram puro «entretainement», mais do que simples concertos. Mais do que um artista, ele era um «showman». Influenciou nisso estrelas como Britney Spears, Rhianna, Puff Daddy ou Justin Timberlake, e dezenas de outros, não só na maneira como hoje compõem e cantam, mas sobretudo na forma como «habitam» o palco.

Dono de uma voz singular, era um exímio dançarino, coreógrafo , compositor, letrista, artista ímpar e completo, viajou por quase todos os géneros musicais (disco, pop, funk, soul, r&b, rock, dance, heavy-metal, new-jack), além de ser um homem de negócios, um benfeitor e um perfeccionista persistente em tudo o que fazia. Poucos artistas viram singles seguidos dos seus álbuns chegarem em catadupa aos tops, como aconteceu com «Thriller» (1982), «Bad» (1987), «Dangerous» (1991) e «HIStory» (1995), quatro dos seis álbuns que marcaram a sua carreira pós-«Jackson 5».

Se não inventou o «moonwalk», atribuído a Bill Bailey, que já o usava em 1955 (ou, segundo outros, aos «break-dancers» dos anos 80), popularizou-o mundialmente. O mesmo fez com a formação em pirâmide na dança, usada em «Thriller» e que posteriormente foi adoptada por muitos grupos. Estava sempre à tentar inovar e sobretudo ultrapassar-se. Muitos dos passos de dança que conhecia de estilos como o sapateado, o music-hall (venerava Fred Astaire!), o swing, a música negra, o break-dance, adaptou-os à pop. No clip «Black &White» (1991) dança ao estilo indiano de «bollywood» encandeando logo de seguida danças africanas e russas. Nesse mesmo clip é o primeiro artista a investir no «morphing», técnica de televisão que consiste em diluir um rosto noutro.

MJ gostava acima de tudo de ser o primeiro em tudo. É o primeiro músico negro a passar na MTV com o mega-sucesso «Billie Jean» (1982). Foi graças a MJ que os músicos afro-americanos começaram a merecer «airplay» na MTV. O mais curioso é que o próprio sucesso do canal de televisão musical, que anteriormente se fechava a artistas negros, se ficou a dever a «Thriller» (1984), expoente máximo da era dos telediscos que então começava. Quando o clip foi lançado, o público da MTV exigia que este fosse passado duas vezes por hora! O clip de «Thriller» tinha 14 minutos (a canção pouco mais de cinco minutos) e os contornos de um mini-filme de terror. Os seus produtores não acreditavam sequer que as televisões passassem o teledisco, considerado «gore». Tornar-se-á a sua canção mais emblemática e o álbum venderá cem milhões de cópias, record que o Guinness regista como nunca igualado por nenhum artista desde então. No total, MJ vendeu mais de 750 milhões de álbuns. Depois de morrer na quinta-feira, a corrida às lojas de discos recomeçou e os descarregamentos online também. O Guinness vai ter que rever as suas contas.

Em 1995, autoproclama-se «Rei da Pop». E se alguns denunciaram na altura a apropriação, uma década mais tarde já ninguém a contestava. Preparava um regresso que lhe foi negado. Quem sabe o que tinha ainda para dar ao mundo da música.

MJ desaparece aos 50 anos, 45 dos quais dedicados à música. Pisou um palco pela primeira vez em 1963. Nos «Jackson 5» (1969-1984), ao lado dos irmãos, são a sua voz e presença que fazem a diferença. Em 1971, lança-se a solo, interpretando «covers» e canções dos Jacksons. Oito anos mais tarde lança o primeiro álbum com temas escritos e compostos por si próprio: «Off the Wall» marca a separação do estilo «Jackson 5». É a partir daí que deixa de ser uma estrela para passar a brilhar num firmamento que poucos alcançaram. A lenda começava. Eu era fã!

Agradeço à Jessica Lobo ter-me cedido este espaço nesta ocasião especial.

José Luís Correia

Um dos ultimos ensaios de Micheal Jackson ocorrido dia 23/06/09


Beat it


Billy Jean


02/06/09

PORQUE AMÁLIA ERA POP

Pegue-se em nove fados de Amália, retire-se-lhe a guitarra portuguesa e a viola e vista-se-lhe uma roupagem pop orquestral. Foi o que fizeram os “Amália Hoje”.
Um dia, a editora discográfica Valentim de Carvalho decidiu pedir a Nuno Gonçalves (fundador do famoso grupo pop-rock gótico “The Gift”) para que este pegasse em temas de Amália Rodrigues e os transformasse completamente. Apesar de o fado ser considerado por muitos como uma relíquia quase sagrada na qual não se pode tocar, Nuno Gonçalves achou que seria um enorme desafio e aceitou aventurar-se.
“Uma das razões pelas quais também aceitei este desafio é que acho que a própria Amália já era pop, porque era muito adorada pelo povo”, explica Nuno Gonçalves em várias entrevistas e no site do projecto.
Depois de escolher os temas que queria remasterizar, Nuno pôs mãos à obra. “Não queria que o álbum se parecesse em nada com um álbum de versões, pelo contrário, queria que as canções fossem completamente diferentes das versões originais “, confia.
Quanto às vozes que interpretam estes fados "versão 2009", Nuno escolheu cantores provenientes de estilos completamente diferentes do fado. Escolheu Sónia Tavares (vocalista dos “The Gift”), Fernando Ribeiro (vocalista do grupo metal gótico “Moonspell”) e Paulo Praça (antigo vocalista dos "Turbo Junkie" e "Plaza"). Muito surpreendidos com a originalidade do projecto, os três artistas aceitaram sem hesitar e admitem não estarem arrependidos. Por razões práticas e porque escolheram recorrer a uma orquestra filarmónica e a coros para a realização do disco, a gravação teve de ser feita entre Alcobaça, Dublim e Madrid.
O projecto seduz sobretudo pela forma como revisita o património musical de Amália. Por exemplo, a canção “Gaivota”, que todos lembramos na voz da grande diva, é aqui interpretada por Sónia Tavares, numa tonalidade mais grave, num estilo entre o rock e o gótico, e fica completamente transfigurada com os coros e os tamborins da orquestra. Para Fernando Ribeiro, "o fado em si já é gótico, pela poesia, a melancolia e a escuridão que carrega".
Além de “Gaivota”, primeiro single, podemos também encontrar neste álbum, entre outros, temas como “Grito”, “Medo”, “Foi Deus” e “Abandono”. O álbum “Hoje” saiu em Abril de 2009 e pode já ser encontrado nos escaparates

Jessica Lobo,
in Contacto, 03/06/09

Amália Hoje - Gaivota


21/05/09

A NOVA FRAGRÂNCIA DA MÚSICA PORTUGUESA

Depois de notar que o Top da Rádio Latina é liderado há algumas semanas por um certo grupo chamado "Per7ume", que anda a embalar os luso-descendentes de cá, decidi fazer uma pequena presquisa sobre este projecto e falar-vos desta nova "fragrância" da música portuguesa. Em 7 de Julho de 2007, A.J. Tozé Santos (voz e guitarra, ex-Blunder), José Meireles (guitarra, ex-Blunder), Nélson Reis (baixo), Bruno Oliveira (bateria) e Elísio Donas (teclas, ex-Ornatos Violeta) oriundos do Porto, decidem formar uma banda de música moderna pop-rock romântica. Em Agosto do ano passado, Donas decide sair da banda, sendo substituído por José Luís Rodrigues. O primeiro álbum homónimo é lançado em 2008 e o primeiro single daí extraído, “Intervalo”, é cantado em duo com Rui Veloso, o que desde logo lhes assegurava uma projecção junto do grande público que não os conhecia. Em Fevereiro do mesmo ano, assinam um contrato com a “Chiado Records” e partem á conquista dos palcos, tomando de assalto os tops radiofónicos de Portugal. O disco de estreia tornou-se disco de ouro, o que lhes permitiu também aceder ao Top 100 Europeu e ser n°1 do Top Digital Downloads (música descarregadas pela internet) e de ringtones (toques de telemóvel), com um só single. Ainda em 2008, tiverem o privilégio de participar com outros grandes nomes da música portuguesa num álbum de homenagem a Carlos Paião intitulado “Tributo a Carlos Paião”, no qual interpretam “Versos de Amor”. Entretanto os "Per7ume" podem não só ser ouvidos nas rádios como na televisão, já que o sucesso “Intervalo” foi escolhido para fazer parte da banda sonora original não de uma, mas de várias telenovelas portuguesas. Segundo os elementos que integram os "Per7ume", o algarismo "7" que substitui o "f" é suposto "representar a perfeição". O terem-se encontrado a 07.07.2007 também já faz parte do mito mas seria, segundo a banda, pura coincidência. Assim como o nome da banda, que não teria sido inspirado na canção "Perfume" dos Entre Aspas, embora essa canção surja no alinhamento do álbum numa versão adaptada. Depois de um 2008 em cheio, o ano de 2009 traz mais desafios: o primeiro álbum está a ser reeditado, com três temas extra e um DVD e a banda prepara a gravação do segundo disco no Verão.

Jessica Lobo,
publicado no Contacto dia 06/05/09

Per7ume feat. Rui Veloso - Intervalo

UPA A SOLIDARIADADE E A MUSICA

Já ouviu na rádio Boss AC, cantar em rap: "(...) Choro a rir, isto é mais forte do que pensei, por dentro sou um mendigo que aparenta ser um rei"? Rimas logo seguidas pela voz de Mariza: "Chorei, mas não sei se alguém me ouviu, e não sei se quem me viu, sabe a dor que em mim carrego"? Pensou que era uma mistura estranha, fado e rap?, um dueto improvável? E, no entanto, o resultado é uma canção linda e uma mão estendida à solidariedade, um projecto do Movimento UPA (Unidos para ajudar) 08. "Levanta-te contra a discriminação das doenças mentais" é o lema deste movimento que juntou um naipe de músicos portugueses para cantarem em duo, com o objectivo de incentivarem pessoas doentes mentais a não negar a doença de que padecem, mas, pelo contrário, a aceitarem-na. A ideia do Movimento UPA nasce na "Encontrar+se", instituição de solidariedade social que trabalha na reabilitação psicossocial de doentes mentais. Concebido por José Pedro Reis (o Zé Pedro dos Xutos & Pontapés), Paula Homem (da editora Valentim de Carvalho) e Pedro Tenreiro (editora Nortesul) e dirigido por Nuno Rafael (músico que já passou por bandas como os Sétima Legião, Despe & Siga ou mais recentemente os Humanos, etc.), o projecto propôs durante dez meses, entre Janeiro e Outubro de 2008, a dez duos cantarem sobre temas sugeridos pela "Encontrar+se" e que abordam o problema da discriminação das pessoas com doenças mentais. Os duos e as canções (algumas já a passar nas rádios) são: Paulo Gonzo e Balla, " Voa", tema que trata a ofensa e o respeito; José Mário Branco e Mão Morta, "Loucura", canção sobre a vergonha e a aceitação; Clã e Jorge Palma, "Convite" (solidão e fraternidade); Cool Hipnoise e Tiago Bettencourt (ex-Toranja) "Ouve bem" (dependência e autonomia); Camané e Dead Combo, "O Vendaval" (separação e união; Xutos & Pontapés e Oioai, "Pertencer" (discriminação e integração); Mariza e Boss AC, "Alguém me ouviu" (desespero e esperança); Sérgio Godinho e Xana (Rádio Macau), "O Rei vai nu" (culpa e tolerância); Mesa e Rui Reininho, "Bipolar" (medo e compreensão); J.P. Simões (conhecido músico portuense) e Rodrigo Leão, "Ele é que não" (negação e aceitação). Cada artista acrescentou o seu estilo ao movimento e a mistura de géneros faz deste projecto algo ecléctico, rico em sensibilidades musicais muito diferentes, indispensável de ouvir. As dez músicas estão disponiveis num álbum editado pela Sony no mês de Novembro, mas são também descarregáveis em www.encontrarse.pt/upa08/ , podendo cada internauta fazer um donativo com a quantia que desejar por cada canção descarregada. As receitas revertem a favor da associação Encontrar+se.

Jessica Lobo,
publicado no Contacto, 01/04/09


Boss Ac feat. Mariza - Alguem me ouviu


Mesa feat. Rui Reininho - Bipolar

O SOM DA BURAKA ESTA NO SISTEMA!

Certamente já tiveram oportunidade de ouvir ou de dançar ao som de "Yah" ou de "Wegue, wegue". Este novo som que anda por aí a conquistar muitas discotecas do mundo chama-se "kuduro progressivo". A receita deste cocktail é uma mistura de kuduro (música de origem angolana muito mexida e dançada de forma sugestiva com o traseiro) e sons electrónicos que são aliás a base primária do "kuduro progressivo". Os criadores deste novo estilo cada vez mais "in" são os "Buraka Som Sistema". Trata-se de uma banda originária da Buraca (bairro muito conhecido dos arredores de Lisboa, onde a maioria dos moradores são afrodescendentes) criado por Lil’Jon, Riot e Conductor. O seu primeiro single "Yah", editado em 2006, entra muito agradavelmente no ouvido e lança-os rapidamente para o topo das vendas, tendo sido mesmo banda sonora original da série inglesa "Skins". Em 2008 editam o seu álbum de estreia "Black Diamond" (para a Sony/BMG), em que participam M.I.A., DJ Znobia, Saborosa e Puto Prata. Este primeiro trabalho inclui "Yah" e "Kalemba (Wegue, wegue)" , que se torna o novo grande sucesso do grupo. Os concertos pelos quatro cantos do mundo sucedem-se e os "Buraka Som Sistema" dão tanto nas vistas (e nos ouvidos!) que não só são nomeados para os "MTV European Music Awards 2008" como vencem o "Best Portuguese Act" (Melhor Artista Português do Ano) no evento. Digam lá então, "people", se tudo isto não confirma inevitavelmente que o Som da Buraka está mesmo a entrar no Sistema.

Jessica Lobo,
publicado no Contacto, 04/03/09


Buraka Som Sistema-Aqui pra vocês (novo single)



Buraka Som Sistema-Kalemba (Wegue, wegue, wegue)



Buraka Som Sistema-Yah

12/05/09

DEOLINDA FON-FON-FON

Os Deolinda são um conjunto de música pop(ular) portuguesa acústica composto por quatro membros: Ana Bacalhau (voz), Pedro da Silva Martins (guitarra e composição), Zé Pedro Leitão (contra-baixo) e Luís da Silva Martins (guitarra clássica).

A banda oferece uma melodia afadistada moderna, mas sem recorrer à guitarra portuguesa. Em contrapartida, inclui harpa e piano, o que lhe dá um som assumidamente contemporâneo.

Ligados por laços de perentesco, os quatro artistas costumavam passar férias juntos numa praia perto de Sintra. Certo dia, Pedro apareceu com três novas composições entre as quais "Aí rapaz", "Não sei falar de amor" e "O fado não é mau", três primeiras canções do grupo escritas já a pensar na voz de Ana. Foi assim que nasceu o grupo Deolinda. O nome do projecto pretende personificar uma mulher genuinamente portuguesa de xaile pelos ombros (é aliás este o simbolo da banda) "atarracada e bem disposta de chinelos e argolas grandes nas orelhas, ladeada de naperons típicos de uma casa à portuguesa, com idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil quanto parece. Solteira de amores e casada com desamores, compõe as suas canções a olhar por entre as cortinas da janela e inspirando-se pelos discos da grafonola da avó e pela vida bizarra dos vizinhos", como já definiu a própria banda em diversas entrevistas. Os Deolinda são acima de tudo um cocktail de estilos e géneros que vai da música tradicional portuguesa ao Tango e à Morna, contando (cantando) histórias humoristicas ou melancólicas.

Depois da saída do seu primeiro albúm em Abril de 2008, "Canção ao lado" (Disco de Ouro), e do seu primeiro e mais conhecido single "Fon-Fon-Fon", os Deolinda não param de encher salas de espectáculos com públicos de todas as idades. E a banda não esconde as suas ambições de internacionalização. Não perdemos assim a esperança de os ver um dia cá pelo Luxemburgo.

Jessica Lobo,
publicado no Contacto, 14/01/09


Deolinda - Fado Toninho


Deolinda - Fon-Fon-Fon

DAVID FONSECA: UMA CARREIRA A CORES

Em 14 de Junho de 1973 nasce em Leiria uma futura estrela chamada David Fonseca. O autor-compositor não começa a sua carreira a solo, mas com uma banda de amigos lá dos Marrazes, que eram tão marados pela pop rock alternativa como ele. Decidem certo dia formar uma banda à qual dão o nome de Silence 4. Em 1998, David Fonseca, Sofia Lisboa, Rui Costa e Tozé Pedrosa lançam o seu primeiro álbum "Silence Becomes it". O disco alcança um sucesso fenomenal e lança-os nos tops, muito graças ao êxito "Borrow".

Em 2003, David Fonseca lança o seu primeiro álbum a solo intitulado "Sing me something new" (disco de ouro). O single "Someone that cannot love", é tocado em simultâneo em 150 estações de rádio portuguesas à meia-noite de 10 de Março desse mesmo ano. A partir de aí, o artista nunca mais parou de subir na sua carreira.

Colabora em 2004 no projecto "Humanos" ao lado do fadista Camané e de Manuela Azevedo (vocalista dos Clã) em que homenageiam António Variações com temas inéditos do autor desaparecido. No ano seguinte sai o seu segundo álbum "Our Hearts Will Beats As One", que na primeira semana de vendas ganha de imediato o estatuto de disco de ouro, sendo considerado o melhor disco pop de 2005 em Portugal.

A última obra do cantor, "Dreams in Colour", sai em Outubro de 2007 com uma apresentação live especial em simultâneo na Antena 3 (rádio rock de referência em Portugal). O álbum inclui uma versão de "Rocket man" de Elton John e um DVD Extra "David Fonseca Dreams in Loop Live" com algumas canções cantadas ao vivo.

Os/as interessados/adas podem consultar o site do artista em www.davidfonseca.com ou o blogue http://davidfonseca.blogs. sapo.pt/ , na internet.

Jessica Lobo,
publicado no Contacto dia 03/12/2008