04/09/09

Ó QUE BANDA !

Imagine uma tasca. Uma tasca portuguesa. Portuguesa com certeza. De lá de dentro vem o som de um fadinho, como é de esperar de uma taberna antiga onde se diz que o fado nasceu. Mas, de repente, o fado encadeia-se em musette e reconhecemos… "Killing me softly with his song", clássico blues-soul dos anos 70. Que coisa bizarra, que som tão estranho!!!

Você resolve entrar e descobre um ambiente de bairro popular em festa, quatro marialvas acompanham uma alfacinha bairrista. Eles são o Pablo (contra-bacia), o Zeto Feijão (guitarra/voz), o João Lima (guitarra portuguesa)e o Donatelo (acordeão), e com a vocalista Miranda formam os "OqueStrada".
Os "OqueStrada" são um verdadeiro ovni musical ou melhor um omni – objecto musical não identificado –, tão difícil é perceber em que género de música viajam. Esta vai do fado "pugilista" (como eles próprios dizem) à musette, passando pelo ska, a pop, a bossa nova e o funaná.

O nome da banda foram buscá-lo à estrada (pode ler-se como a fusão de "ó que estrada" com "orquestra de estrada") e às digressões que fazem desde 2002. A sua música quer-se como eles: genuína, verdadeira, as suas canções vêm da rua, da viela, falam do dia-a-dia de um país real.

Os "OqueStrada" pegam em instrumentos do fado do século XIX – a concertina, o violino, a viola, a guitarra –, e juntam-lhes, sem complexos, os urbanos trombone, trompete, baixo e cantam aquilo para o qual o fado foi criado originalmente: cantar o quotidiano e espantar os seus males, como dizia o povo. Mas a música dos "OqueStrada" é mesclada, mais nervosa, irrequieta e galhofeira do que o fado, mesmo quando é corrido. São canções do século XXI, falam do tempo de agora, do Portugal emigrante, do Portugal imigrante, do Portugal dos subúrbios, do Portugal mestiço, do Portugal cigano.

Assim, o seu álbum "Tasca Beat - O sonho português" (Abril/2009) inclui uma desgarrada luso-francesa, uma musette em inglês, uma bossa nova zíngara e até músicas cantadas em crioulo. O primeiro single extraído do álbum é o seu melhor cartão de visita porque resume tudo o que a banda é: "Oxalá te veja" é um alegre ska com uma ponta de swing com uma atitude fadisteira a condizer. E o resto do álbum, são só mais pérolas assim.


Jessica Lobo
in jornal CONTACTO, de 09.09.2009