04/05/10

ANAQUIM OU A MUSICA "CUSCA"

Em meados de 2006, José Rebola, originário de Coimbra e, nessa época, guitarrista dos Cynicals, começa a compor umas canções, que se destinavam à banda. No entanto, essas composições nunca chegaram a ser interpretadas pelos Cynicals. Em 2007, Rebola decide então tentar lançar as suas canções a solo. O autor-compositor pede a ajuda de músicos amigos – João Santiago, Pedro Ferreira, Filipe Ferreira e Luís Duarte – e, finalmente, o que era suposto ser um projecto a solo, transforma-se num quinteto a que dão o nome de "Anaquim". Anaquim não é apenas o nome do projecto como representa uma personagem engraçada, mas muito "cusca", atenta ao quotidiano dos vizinhos do seu bairro, alguém que tenta subtilmente contar (bisbilhotar?), através das suas canções, o que vê e sente durante essa observação curiosa da vida alheia. "As vidas dos outros" é aliás o nome do primeiro single, bem como do primeiro álbum do grupo, saído em Março último. Segundo J.P. Simões, popular autor-compositor portuense e apresentador do programa musical "KM Zero" da RTP2, com este projecto Rebola conseguiu "desmultiplicar-se em várias personagens de um bairro imaginário e familiar, em que passamos de criança a adulto rapidamente, tentando guardar as histórias, os cenários e as personagens que parecem desaparecer juntamente com as nossas ternas e frágeis fantasias infantis". É verdade que as canções dos Anaquim são uma verdadeira lufada de ar fresco na música portuguesa. Algumas são alegres e cómicas, outras mais emotivas, sempre interpretadas com um ritmo que vai do swing à musette, com jogos de sinos e um rock'n'roll muito moderno. O álbum "As vidas dos outros" tem um ar de festa e o videoclipe do single mostra isso mesmo: é um desenho animado cómico e muito bem realizado que nos deixa com um sorriso de orelha a orelha e nos traz uma enorme curiosidade em saber como serão os próximos videoclipes, canções e as histórias que nos vão contar. O álbum conta com a participação de Ana Bacalhau, vocalista dos Deolinda (de que já falamos aqui no Expresso Musical, em Janeiro de 2009), que canta em dueto com José Rebola o tema "O Meu Coração", outra canção para ouvir obrigatoriamente. Sugíro a visita da página myspace da banda em www.myspace.com/anaquim.info para os que quiserem descobrir mais sobre eles. Jessica Lobo As Vidas dos Outros

08/03/10

O BLUES DO TIGRE LENDÁRIO

The Legendary Tigerman, que é na verdade o nome artístico de Paulo Furtado, é o músico de quem vos vou falar este mês. Porquê especialmente deste artista? Porque apesar de cantar em inglês, este português de Coimbra, tem tido um sucesso tão fenomenal em Portugal que era praticamente impossível não falar dele. Músico (guitarrista e baterista), autor e compositor, o próprio diz inspirar-se do blues norte-americano para compor as suas músicas. Mas também do soul, do punk, do hardcore e até do tango, confia o artista no seu site oficial. Eu cá defino o estilo de The Legendary Tigerman como blues-rock completamente alternativo. As canções de Paulo Furtado são bastante lentas, são composições em que a guitarra adquire a importância quase toda, o artista optando por muito poucos outros instrumentos. No seu quinto e mais recente álbum, "Femina", de 2009, fazem-se notar participações de várias vozes femininas, que contrabalançam harmoniosamente com a voz suave e grave do tigre. Destaque-se as participações de Rita Redshoes (de que já aqui falámos no "Expresso Musical", em Outubro de 2009) bem como da actriz e realizadora Maria de Medeiros, que não só canta como participa no clip "These boots are made for walking", cover de uma canção norte-americana bastante conhecida e que foi aqui completamente remasterizada pelo tigre lendário. Paulo Furtado começou a sua carreira em 2000, hoje vive em Lisboa e é um artista consagrado. Para mais informações sobre The Legendary Tigerman, podem visitar a página oficial do artista em www.myspace.com/thelegendarytigerman ou no meu blogue http://expressomusical-contacto.blogspot .com/ , na internet. Jessica Lobo

Life ain't enough for you


These boots are made for walking (featuring Maria De Medeiros)

12/02/10

OIOAI, DO ROCK AO POP(ULAR)

João Neto (guitarra), Pedro Puppe (voz e guitarra), Nuno Espírito Santo (baixo) e Fred (bateria) são os quatro músicos que formam o grupo Oioai, de quem vos vou falar este mês. Especialidade da banda: rock e punk.

Um dia de 2002, João Neto encontra Pedro Puppe que lhe pergunta se não estaria eventualmente interessado em alinhar "numa de rock". Neto achou que a ideia de Puppe não era má e assim começou a aventura. Percorreram um longo caminho, passaram por várias formações que não deram certo até encontrarem o grupo ideal em 2006, ao qual deram o nome de "Oioai". Os artistas explicam que escolheram esta designação porque pensaram ser um nome que representa bem a música popular portuguesa, e eles consideram que o que fazem é música popular portuguesa contemporânea.

Alguns críticos comparam o estilo do projecto aos Toranja, o que considero não estar assim tão errado. É verdade que, sobretudo nas baladas, os estilos das duas bandas são bastante similares. Quanto às letras, os Oioai dizem inspirar-se em Sérgio Godinho, Jorge Palma e Caetano Veloso, entre outros, para compor as suas canções.

O primeiro álbum dos Oioai saiu em 2006. Dois anos depois participaram num movimento de solidariedade, de que já aqui falei, o "Movimento UPA", em que tocaram em duo com os Xutos & Pontapés uma canção intitulada "Pertencer", tema que fala de um jovem em dificuldades.

Jessica Lobo

Ponto Fraco


Deves estar a chegar

05/02/10

Portugueses X-Wife participam em colectânea internacional a favor da Amnistia Internacional

Os portugueses X-Wife participam em Março na colectânea internacional "Peace", que reúne temas de mais de uma centena de artistas de todo o mundo e cujas receitas reverterão para a Amnistia Internacional.

O grupo electro-rock do Porto participa com uma nova remistura do tema "On the radio", juntando-se a artistas de mais de 50 países, entre os quais Mogwai, Ryuichi Sakamoto, The Hidden Cameras, Ra Ra Riot, Vieux Farka Touré, I'm From Barcelona, Vive La Fête, The Low Anthem e os brasileiros Bonde do Role.

João Vieira, vocalista dos X-Wife, explica que o convite surgiu em 2009 a convite da dupla de DJ espanhóis Buffetlibre, que organizou a colectânea.

"Como temos tocado muito em Espanha e estamos editados lá, convidaram-nos para participar e aceitámos também por ser uma causa em nome da Amnistia", referiu o músico.

A compilação "Peace" será lançada a 1 de Março apenas em formato digital, na internet.

Quem aceder ao site do álbum poderá descarregar as músicas, doando no mínimo dois euros a favor da Amnistia Internacional, que utilizará as verbas recolhidas para projetos humanitários em áreas de conflito.

"É uma boa causa e dois euros hoje em dia não é muito. É sempre bom participar em iniciativas destas", sublinhou João Vieira, elogiando o cartaz de artistas que se associaram a "Peace".

28/01/10

"Amália Hoje" foi o álbum mais vendido em Portugal em 2009

"Amália Hoje" foi o álbum português mais vendido no ano passado, logo seguido pelos discos de Tony Carreira e Rita Guerra, revelou hoje a Associação Fonográfica Portuguesa (AFP).

Sem revelar números efectivos, a AFP divulgou hoje a lista dos 50 álbuns mais vendidos, em que se incluem sete discos de autores portugueses entre os dez primeiros lugares.

No total dos 50 títulos, 16 são portugueses, além dos que integram colectâneas e os de expressão portuguesa, caso de "Em casa ao vivo", do brasileiro Alexandre Pires, em 39º lugar.

"Amália Hoje", que recria em ambiente pop os fados de Amália Rodrigues, é um disco de uma banda liderada por Paulo Gonçalves (dos The Gift) e constituída por Sónia Tavares (The Gift), Fernando Ribeiro (Moonspell) e Paulo Praça (ex-Turbo Junkie e Plaza).

"O homem que eu sou" de Tony Carreira foi o segundo álbum mais vendido e em terceiro lugar o acústico de Rita Guerra.

Entre os dez primeiros estão ainda "No line on horizon", dos U2 (4º), "Canção ao lado", dos Deolinda (5º), "A Mãe", de Rodrigo Leão (6º), e "Terra", de Mariza, editado em 2008, em 7º lugar.

No 8º lugar ficou "Hannah Montana - The Movie", de Hannah Montana, seguido de "Quiet nights", de Diana Krall, e no 10º "Play me", das Just Girls.

Hannah Montana é a única artista que bisa a presença nesta tabela com o álbum da banda sonora de "Hannah Montana 3° em 43º.

A colectânea mais vendida foi "Música das Índias", editada pela Vidisco, colocando-se em 12º lugar.

O álbum de estreia de Carminho, "Fado" (EMI Music Portugal), conseguiu alcançar o 49º lugar.

Em termos de fado, além de Mariza a tabela regista o 28º lugar de "Leva-me aos fados" (Universal Music), de Ana Moura, o 33º de "Amália - Coração Independente", (Iplay/Valentim de Carvalho), de Amália Rodrigues, e o 45º do quarto volume de "The Best of fado - Um tesouro português", que inclui gravações de Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Maria Teresa Noronha, Camané e Katia Guerreiro, entre outros.

O único álbum de música francesa nas listas dos 50 mais vendidos é o duplo CD "Paris toujours" (Farol), em 34º lugar. O álbum conta com as gravações, entre outros, de Charles Aznavour, Adamo, Patrícia Kaas ou Edith Piaf.

O último da tabela é "25 The Greatest Hits", dos Simply Red.

16/01/10

Sérgio Godinho quer editar novo álbum mas já pensa em festejar os 40 anos de carreira em 2011



Sérgio Godinho quer editar este ano um novo álbum, mas a breve prazo terá no horizonte uma efeméride à qual ainda não tinha dado importância: os 40 anos de carreira, desde que lançou "Sobreviventes", em 1971.

A efeméride foi mencionada sexta-feira à noite, numa "aula" que o músico português deu na Escola do Hot Clube de Portugal (HCP), em Lisboa, no âmbito de uma série de encontros organizados por aquele clube de jazz.

As "masterclasses Hot Club Songwriter", que terminam no domingo, permitem ao público conhecer melhor intérpretes e compositores de áreas distintas da música portuguesa.

No caso de Sérgio Godinho, foram duas horas de conversa que, sem que se desse por isso, se desvendaram detalhes e experiências somadas de uma carreira longa, mas que aponta sobretudo para o que está ainda por ser fazer.

"Eu distraio-me com as efemérides e não me interessam muito. Neste momento tenho outras prioridades, quero fazer um disco de originais este ano", sublinhou o autor, que tem já um punhado de canções

Sérgio Godinho revelou que gostaria de o ter editado em 2009, encurtando a distância em relação a "Ligação Directa", que data de 2006, mas outras criações se sobrepuseram, como a banda sonora da série televisiva "Equador", a interpretação da peça "Onde vamos morar", dos Artistas Unidos, e a escrita dos poemas de "O sangue por um fio".

A sessão de sexta-feira foi uma das mais concorridas desta primeira série de encontros do Hot Clube de Portugal, com uma audiência feita sobretudo de estudantes da escola de jazz com vontade de saber modos de composição e influências de carreira.

É tido um dos mais originais músicos da sua geração, com mestria no uso da língua portuguesa, mas Sérgio Godinho confessou que no começo da carreira não conseguia escrever em português e que, salvo honrosas excepções, nem lhe agradava muito a música portuguesa.

"Mas quando o Zeca [Afonso] apareceu, deu-me um abanão que foi muito importante", disse.

Zeca Afonso seria, então, um dos dos principais estímulos do seu trabalho, e um dos mais citados na sessão de sexta-feira. A ele juntaram-se Jacques Brel, Caetano Veloso, Chico Buarque e toda a bossa nova, Beatles, Bob Dylan e Rolling Stones.

Somando tudo isto a um "crescimento com muitos géneros de música nos ouvidos" e a um espírito auto-didacta, o resultado é - segundo descrição do próprio - uma música "urbana, com componentes folk, rock, jazz e música tradicional".

Está condensada em mais de vinte discos - fora os que estão para vir - com canções que podem ter destinatários, personagens, frescos da realidade, esboços de narrativas, com experiências suas, mas nunca auto-biográficas.

A intenção final será sempre "tocar as pessoas num determinado ponto da sua sensibilidade", mas também "dar interrogações, porque têm que ser incomodadas".

Depois de Sérgio Godinho, as "aulas" dos convidados do HCP prosseguem hoje com o rapper Sam the Kid e terminam no domingo com o músico João Manuel Vieira.

Antes de Sérgio Godinho, pela Escola do clube de jazz passaram Fernando Ribeiro e Pedro Paixão, dos Moonspell, Tiago Bettencourt, Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves, dos Clã, e o fadista Camané.

Com esta iniciativa, o HCP pretende ainda chamar a atenção para a situação de impasse que o mais antigo clube de jazz português vive desde o incêndio que atingiu em Dezembro a cave onde funcionava, na Rua da Alegria, em Lisboa.

A direcção do clube procura uma sala alternativa naquela praça, por uma questão de proximidade com o antigo local e de fidelização de público, habituado a frequentar aquele espaço.

O clube de jazz estuda uma solução a partir de quatro ou cinco hipóteses sugeridas pela autarquia, até que se proceda à reabilitação do prédio onde funcionou ao longo dos últimos 60 anos.

12/01/10

POP FOLK SUTA

Há cerca de 14 anos, em Beja, Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo decidiram formar a banda Virgem Suta. O gosto por música tradicional de Jorge e a preferência pelo pop urbano de Nuno fizeram com que juntassem os dois estilos criando assim um género musical popular moderno ou algo a que poderiamos chamar de « folclore pop progressivo português », desafio outrora tentado por grupos como os Sitiados, mas no registo rock.


Em 2001 encontram Hélder Gonçalves dos Clã, que se torna o produtor do projecto. A aventura podia começar a valer. Os dois artistas explicaram já por diversas vezes na imprensa que o « Virgem » do nome da banda se deve ao lado natural da música e das letras e porque antes de lançarem a banda eram ambos “virgens” nestas lides. “Suta” porque no Alentejo a palavra significa « excesso » e a banda quer-se alheia ao exageros líricos. « Virgem Suta é um estado exagerado de estar, de viver, de pensar », gostam de contar.

A originalidade dos Virgem Suta provem sobretudo da sua musicalidade. Esta surpreende pelo «casamento feliz» entre instrumentos do pop como a bateria e a guitarra eléctrica com instrumentos tradicionais portugueses como o cavaquinho, a guitarra portuguesa e o adufe (pandeiro com guizos); e pelas letras das músicas, simples e frescas, como as rimas das canções tradicionais e do folclore português. A isso juntaram uma pitada de arrojo e de loucura e é assim que funciona o cocktail Virgem Suta.

Depois de anos de concertos na estrada, em 2009 lançam o primeiro single «Tomo conta da tua casa» e em Junho último saiu o primeiro álbum homónimo da banda contendo uma dúzia de canções. Jorge (voz e guitarra) e Nuno (guitarra e coros) constituem o núcleo duro dos Virgem Suta, mas a eles juntam-se regularmente outros músicos. Actualmente, a banda conta ainda com Hélder Morais (baixo, sintetizador e coros), Nuno Rafael (guitarras e coros), João Cabrita (programações, guitarras e coros) e Sérgio Nascimento (bateria e programações).

Jessica Lobo

(rubrica publicada na primeira semana de cada mês ; próxima publicação : 3 de Fevereiro)

Toma conta desta tua casa


Vóvó Joquina